A paz, quando vem de onde não se espera, incomoda. E incomoda profundamente. É curioso observar como a tão proclamada defesa dos direitos humanos, da liberdade e da fraternidade mundial parece perder o brilho quando o mensageiro não veste a cor política “correta”. Foi assim com a trégua em Gaza — tão improvável quanto necessária — alcançada sob a mediação de alguém que a esquerda prefere demonizar: Donald Trump.
O desconforto foi imediato. Não
porque a paz fosse indesejada, mas porque ela foi costurada por alguém
identificado com a direita. A lógica é simples — e triste: se o bem não vem de
quem eu aprovo, então não é bem. A partir daí, toda conquista é relativizada,
todo gesto é questionado, toda iniciativa é tachada de oportunismo. O ranço
ideológico fala mais alto do que o senso de humanidade. Eu, Palestino de
sangue, com meus parentes sofrendo sofrendo, não me importo se fora direita ou de
esquerda quem costurou o acordo de paz, importa é que foi feito.
Esse mesmo fenômeno se repetiu
com a indicação de Corina Machado ao Prêmio Nobel da Paz. Em vez de celebrar o
símbolo de resistência democrática contra um regime autoritário e opressor, boa
parte da militância preferiu o silêncio — ou pior, a ironia. Porque, afinal, a
paz, a liberdade e a coragem só são virtudes quando emanam de uma certa
cartilha ideológica. Quando vêm de alguém “da direita”, perdem o encanto,
tornam-se suspeitas, indignas de aplauso.
Mas a verdade é que a paz, a
verdadeira, não tem partido. A busca pela conciliação, pela estabilidade e pela
dignidade humana não deveria depender de quem a propõe, mas sim do que ela
representa. Reduzir a paz a um campo de batalha ideológico é trair o próprio
ideal que se diz defender.
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