Meus amigos, nas últimas semanas, um debate crucial tem ocorrido nos corredores do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas longe dos holofotes da mídia tradicional.
O ministro do STF Edson Fachin
mexe num vespeiro e apresenta uma proposta de implementação de um Código de
Conduta da Magistratura, inspirado no rigoroso modelo do Tribunal
Constitucional Federal da Alemanha. O ministro passa a enfrentar uma
resistência interna significativa. Mas o pior é esse silêncio ensurdecedor
midiático, pois estamos falando de uma potencial transformação na cultura
judiciária brasileira.
Afinal, o que é esse Código de
Conduta?
O modelo alemão, que serve de
inspiração, estabelece regras de conduta detalhadas para magistrados, indo além
das disposições genéricas da Lei Orgânica da Magistratura. Entre suas
principais diretrizes estão:
- Transparência em contatos extraprocessuais:
Registro obrigatório de encontros com advogados, partes interessadas e
autoridades políticas, com divulgação pública.
- Limites a presentes e hospitalidade: Proibição
rigorosa de aceitação de benefícios que possam comprometer a
imparcialidade.
- Restrições a atividades paralelas: Controle sobre
palestras remuneradas, consultorias e participação em eventos
patrocinados.
- Regras para declarações públicas: Diretrizes claras
para magistrados que se manifestam publicamente sobre temas políticos ou
jurídicos.
- Gestão de conflitos de interesse: Mecanismos
preventivos para identificar e administrar situações que possam afetar a
imparcialidade.
E o porquê dessa resistência das
cortes superiores? O que se especula, tanto por fontes do STF quanto do STJ é
uma desconfiança em relação à proposta do ministro Fachin. Os argumentos contrários
giram em torno de, pasmem, “Invasão de Privacidade”, “Autonomia Judicial” “Auto
Regulação” e até pela “Tradição Brasileira”, pois argumentam que o modelo
alemão não se adequaria à realidade nacional. (coisas de um país tupiniquim,
por certo).
Agora pergunto: Por que este
código é necessário? Vou enumerar segundo aquilo que penso e vejo acontecer diuturnamente
em nosso país.
- Crise de confiança: Está mais que comprovado por pesquisas
consistentes que mostram o declínio na confiança pública no Judiciário. Um
código transparente poderia reverter essa tendência, não acham?
- Prevenção de escândalos: Casos recentes de
envolvimento de magistrados com operadores do direito demonstram a
necessidade de regras claras, isso para não dizer das relações pouco
republicanas entre membros do judiciário com atores, tanto da política
como da vida privada.
- Alinhamento internacional: Países com sistemas
judiciários mais respeitados implementaram códigos semelhantes, com
resultados positivos, porquê aqui não daria certo?
- Igualdade de tratamento: Se juízes de primeira
instância já seguem regras de conduta, por que ministros das cortes
superiores estariam acima destas?
Vejam como funciona a lição Alemã
e tirem suas conclusões das causas de tanta resistência a ele:
“No Tribunal Constitucional
Federal alemão, cada magistrado deve registrar trimestralmente seus encontros
com representantes de grupos de interesse, partidos políticos ou advogados que
atuam perante o tribunal. Esses registros são públicos e sujeitos a escrutínio.
Quando um caso envolvendo uma dessas partes chega ao tribunal, o registro serve
como filtro para identificar possíveis conflitos. O resultado? Nas últimas
décadas, não houve um único escândalo de corrupção ou tráfico de influência no
tribunal constitucional alemão”.
Desta feita, um Código de Conduta
representa mais do que um conjunto de regras, ele simboliza um compromisso
público com a integridade judicial em um momento de profunda desconfiança nas
instituições. A resistência interna é compreensível em qualquer processo de
mudança cultural, mas não pode ser determinante, não deve, nunca, prevalecer a
vontade de quem não quer colocar a casa em ordem.
Como cidadãos, temos o direito e
o dever de acompanhar este debate. O silêncio público seria a sentença de morte
para uma das reformas mais importantes do Judiciário nas últimas décadas. A
questão não é se os ministros do STF e STJ são pessoas íntegras, é claro que a grande
maioria o são, mas se o sistema como um todo possuir mecanismos transparentes
para comprovar e proteger essa integridade, tudo passará a fluir da melhor
maneira possível e ter transparência dos atos judiciais.
Usama Samara